segunda-feira, 2 de junho de 2014

INÚTIL

Lembrei-me há dias deste ser levezinho, que nasceu de um generoso convite da minha querida Estelle Valente. No lindíssimo blog "Les Ombres du Temps", empresta as suas maravilhosas fotografias a quem lhe empreste algumas palavras. Assim fizemos. Considero esta foto um bocadinho minha e este ser levezinho é todo teu, Estelle. 


    Fotografia : Estelle Valente

   

   Segura-me inútil, assim tombada de tudo e de nada.
   Segura-me, inútil!
   Segura-me ainda que de nada te sirva.
   Somos iguais, tu e eu, não vês?
   Abraça com força o inútil de mim.
   Larga o resto que não sobra.
   Não há que temer.
   Deixa ao medo o nada que resta do que seguras,
   é tão pouco o que te confio.
   Não pode ser assim tão difícil,
   um quase nada de gente,
   levezinho.
   Não há Cerélac capaz de engordar a gente que não sou.
   Nasceu assim o bébé,
   enfezado.
   Nem com papas lá vai.
   É só,
            atirar ao ar e voltar a agarrar
            atirar ao ar e voltar a agarrar
            atirar ao ar e voltar a agarrar....
            Só isso.
   Vais ver como ri de felicidade,
   ou lá do que riem os seres levezinhos...
   É só isso que quer,
   que o segures.
   Nem que o atires,
   que o segures.
   Mas se para isso tiver de voar,
   não se importa,
   fecha os olhos com força e quando voltar a olhar,
   já ri,
   seguro.
   Segura-o inútil, assim tombado no ar,
   de cada vez que voa,
   de cada vez que ri.
   Segura-o inútil, assim tombado de tudo e de nada.
   Inútil?
   Não... levezinho, apenas.
   Lembra-te,
                     atirar ao ar e voltar a agarrar
                     atirar ao ar e voltar a agarrar
                     atirar ao ar e voltar a agarrar....
   Repara como ri.
   Que importa se de felicidade ou se de outra fantasia qualquer?
   Segura-me, inútil!
   Ri-te, inútil!
   Aproveita se te faço útil.

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