segunda-feira, 30 de junho de 2014

Preocupa são

Não te preocupes meu amor
esta tristeza vai muito para além de ti
e de mim
Tem o tamanho das coisas como elas não são
Por isso nunca te preocupes meu amor
ela vai muito para além daqui
Não há quem culpar
Esta tristeza não me chega de ti
nem de mim
Tão pequenos tu e eu
Inquietar-nos seria em vão
Por isso te digo
não te preocupes meu amor
Eu cuido não me preocupar
se me falhaste ou nem me viste
Que relevância perto das coisas como elas são?
Eu cuido não me preocupar
mas a tristeza insiste
e insiste
Não chores meu amor
não te preocupes se me mentiste
A verdade está ainda por descobrir
nada garante que se encontre mais salubre que esta triste
mágoa de não saber procurar

segunda-feira, 2 de junho de 2014

INÚTIL

Lembrei-me há dias deste ser levezinho, que nasceu de um generoso convite da minha querida Estelle Valente. No lindíssimo blog "Les Ombres du Temps", empresta as suas maravilhosas fotografias a quem lhe empreste algumas palavras. Assim fizemos. Considero esta foto um bocadinho minha e este ser levezinho é todo teu, Estelle. 


    Fotografia : Estelle Valente

   

   Segura-me inútil, assim tombada de tudo e de nada.
   Segura-me, inútil!
   Segura-me ainda que de nada te sirva.
   Somos iguais, tu e eu, não vês?
   Abraça com força o inútil de mim.
   Larga o resto que não sobra.
   Não há que temer.
   Deixa ao medo o nada que resta do que seguras,
   é tão pouco o que te confio.
   Não pode ser assim tão difícil,
   um quase nada de gente,
   levezinho.
   Não há Cerélac capaz de engordar a gente que não sou.
   Nasceu assim o bébé,
   enfezado.
   Nem com papas lá vai.
   É só,
            atirar ao ar e voltar a agarrar
            atirar ao ar e voltar a agarrar
            atirar ao ar e voltar a agarrar....
            Só isso.
   Vais ver como ri de felicidade,
   ou lá do que riem os seres levezinhos...
   É só isso que quer,
   que o segures.
   Nem que o atires,
   que o segures.
   Mas se para isso tiver de voar,
   não se importa,
   fecha os olhos com força e quando voltar a olhar,
   já ri,
   seguro.
   Segura-o inútil, assim tombado no ar,
   de cada vez que voa,
   de cada vez que ri.
   Segura-o inútil, assim tombado de tudo e de nada.
   Inútil?
   Não... levezinho, apenas.
   Lembra-te,
                     atirar ao ar e voltar a agarrar
                     atirar ao ar e voltar a agarrar
                     atirar ao ar e voltar a agarrar....
   Repara como ri.
   Que importa se de felicidade ou se de outra fantasia qualquer?
   Segura-me, inútil!
   Ri-te, inútil!
   Aproveita se te faço útil.